Tuesday, October 19, 2004

Mudez profunda
Fatalmente expias uma marcha devastadora
Silêncio místico
Serves-me um compasso de rubros incêndios
Onde jazem ossadas assustadas dos teus ecos
Fraca e mutilada, imprimo um grito cortante
Mas neste escuro labirinto, ninguém me ouve…
E esta negra vertigem da vida anuncia-me a profundeza da miséria da vida
Sopro fatal da poeira dos jazigos

Coração débil de risos adormecidos
Espírito inanimado de sons confusos
Numa ansiedade tortuosa de olhos dilatados
Transviaste-me do mundo dos vivos
Roubando-me aquilo que de mais sagrado possuía
A minha dignidade…



JULIANA R.S.ALVES

Saturday, August 14, 2004

PORTALEGRE

alves_ana@msn.com

Por vezes sabe-me bem o sossego destas paisagens onde vivo, outra vezes tudo se assemelha a um grande quadro de personagens estagnadas no tempo...pessoas que deixam as suas vidas para viver num mundo fastamasgórico: o da aparência...

Saturday, June 26, 2004

Com um olhar vago e melancólico
Aquele perfil ali passava
Mas uma aragem se levantou e levemente o soprou...
Também as aves esqueceram as claves da melodia
Mundo inaudível de perigosas viagens
::

Sono da Vida

Subi nos pensamentos de uma cidade invisível , dirigindo os meus passos para um quietude escura. Encontrava-me porém, distante das minhas fantasias caminhando à sombra de um dia que ia morrendo. O espaço, mostrou-me um sonho desperto, sobre o qual sustive o passo. Arremessei inúmeros enigmas consolando uma máscara invisível, que não era senão a minha .Impaciente fui tragada por um misterioso sono. Um sono de tempos idos, intensamente sentido. Compreendi nas entranhas do meu ser, que estava viva. Viva, mas não liberta, do meu sentir, do meu querer e do meu pensar. Sorvi naqueles momentos, todas as formas da liberdade, num mundo misterioso de semi vidas. Iria finalmente partir... quando uma voz me chamou, para a minha vivência.
Em mil pedaços desfiz aquele efémero sentir...
Dentro de mim mesma, caminhei longas horas, satisfeita pelos factos estranhos que velavam a minha face. Sentei-me então, à beira das miragens anónimas de toda uma Realidade irreal, sobrecarregada de informações de um mundo onde a Verdade não existe. De um Mundo de eutanásia no sentir...exaustivo, febril e sócio de tantos enganos. Ergui a alma no meio da tragicidade de tantas existências, e finalmente me revelei, ao abrir antecipadamente o mundo em redor. Não com desdém, e muito menos com a mão da ironia, mas com a certeza de que com a luz da compreensão estaria pronta para mais uma dolorosa frustração. Frustração, por nem sempre conseguir encontrar uma explicação...
Estou ausente em mim mesma, longe, para reacender sem cessar uma alegria, uma esperança, uma verdade, através dos sentidos da mente.
Verdade incolor, que permeias os reflexos da Realidade...quanta revolta me causas por essa atitude maléfica de ludibriares os que por ti clamam. Perdes o nome e a forma afogando-te num oceano de falsidades vãs. O mesmo oceano que muitos buscam para ancorar os seus restos, no porto da sombras. Porque...por vezes, a verdade dói, como as velhas paixões esquecidas.
JRSA

Instante

Fecho o olhar na paz do momento
Instante distante...
Parou o fluir do tempo e o meu olhar encheu-se de uma calma antes disfarçada
Fechei uma tarde incerta na meia-luz dos ponteiros do instante
Bordarei com as linhas da amizade este sonho, prolongado de um acerto secreto
Mas nunca trarei o coração laçado no êxtase das sensações anteriormente desejadas
Larguei então, as amarras do coração como prova de confiança...
Leio e releio inumeras vezes a mesma personagem em auditórios orfãos de palavras
Tive hoje a sensação de que o tempo se encarregaria de me explicar esta alma.
Talvez por isso...hoje não consiga desembrulhar as palavras...
Porque hoje nada me inquieta os pensamentos...
Fica novamente a certeza de já ter vivido este cenário...

TEMPESTADES

TEMPESTADES
Tempestades, chuvas, granizos.
Terremotos. Maremotos. A vida humana muitas vezes é uma mescla dolorosa de tudo isso.
Os viajantes da nau da vida no oceano do tempo, vêem-se então atormentados e temerosos, angustiados e presos de imenso sofrimento.
Calculam com sofreguidão o tempo que lhes falta para completarem a própria vida, e não aguentam o pensamento de que ainda lhes resta muito tempo para acabarem a sua vida biológica.
Resolvem então por termo à própria existência.
Pensam que a vida acaba no cemitério, e ali se esgotam todas as amarguras.
Engano fatídico!
Muitas vidas seriam poupadas à ceifeira do desatino, se essas criaturas, com o coração enregelado pelos desencontros afectivos, encontrassem ouvidos atentos e compreensão dum coração amigo.
Dói muito a picada do desespero .
Sangra imenso a úlcera da solidão.
Faz chorar o travo amargo da incompreensão dos seres queridos.
Nada disso porém é razão suficiente para por-se termo à vida, pois a vida é dom divino e bem supremo.
À amargura presente no relacionamento humano, pode suceder o calor do bom entendimento.
À tempestade das lágrimas que arrasam tudo, sucede quase sempre o sol benfazejo da alegria e do triunfo.
A própria natureza nos ensina que a existência não será propriamente primavera em permanência.
Ao açoite impiedoso porém do látego do inverno, sucede a brisa calma e morna da primavera, renovando a esperança.
JRSA

CARTA DA ESPERANÇA

Amigo:
A vida é feita de sonhos, de alegrias e de esperanças, de dores e amarguras, de manhãs doiradas e de noites sem estrelas.
Nada do que existe é perecível.
Tudo permanece no arquivo do Tempo, qual útero cósmico à espera do seu momento de "fiat lux".
O que ainda não realizaste, conseguirás fazê-lo no amanhã, se permaneceres fiel a ti mesmo.
A ferida que infecta e sangra, curará deixando apenas leve cicatriz, para que não esqueças que tudo na vida tem um tempo de espera, de estado e de permanência.
Chora todas as perdas que fores acumulando pelo caminho, mas não te esqueças de que os personagens queridos que vão ficando para trás nas folhas da vida, reencontrá-los-ás mais à frente nas páginas que se seguem no grande livro do Tempo.
Mantém a esperança , ela te dará as forças de que necessitas para prosseguires mais além.
Esquece o desapontamento que te constrange, perdoa os espinhos que te ferem, apazigua o tumulto das tuas idéias, no torvelinho escaldante dos anseios incontidos.
Ama a ti mesmo, com o respeito que se tem para com os grandes amigos.
Ama a todas as criaturas à tua volta, viajores como tu, do Universo infinito.
Ainda que o terremoto do desespero te desestabilize a alegria no foro íntimo, segue imperturbável , na direcção dos teus ideais.
A vitória é sempre certa para todos aqueles que trabalham confiantes no amanhã.
JRSA

CONFIDENCIAS NO JARDIM

Fui encontrar o poeta naquela tarde, de olhos semicerrados, sentado a um canto do jardim, solitário, em atitude de quem estava ou a rezar, ou a auscultar os soluços da cascata de águas cristalinas que descia borbulhante a serra, em pleno inverno.
Receei perturbar a sua opção pelo sossego, ensaiei alguns passos em bicos de pés, para retirar-me, quando ele abriu os olhos para chamar-me.
Conversamos longamente.
Tinha ânsias de contar-lhe todas as amarguras da vida. E ele confidenciou-me um rosário imenso de queixas acerca de todas as raparigas que havia conhecido...
Algumas acarinharam-me a face, dizia ele, com mãos de cetim, outras falaram-me à acústica da alma com voz de veludo, todas porém se contorceram na ânsia do amor que os meus lábios não conseguiram saciar...
Ah como é insondável e profundo o oceano do coração das raparigas!...
Idealizei-as com alma vestida de púrpura e carmesins...
Teci-lhes longos versos em noites intermináveis de insónias.
Foram as fantasias mais embriagantes de minha existência, e os meus mais atormentados e ferozes pesadelos...
Beijei-as em sonho de varão que acaricia delfins...
Não me prendi a nenhuma, nem quis prender alguma, porque entendo que a flor desfalece em mãos afoitas que lhe roubam a vida, cortando-a no caule.
Preferi atormentar-me com o suave clarão das estrelas na minha longa noite de solidão, a devorar esfomeado o colorido fruto da romã...
Não me arrependo.
Preferi a diversidade à unidade. A policromia de todas as flores existentes no Universo, à pobreza míope de apaixonar-me pela única flor do meu jardim...
Sinto-me hoje como ontem, um homem só, mas apaixonado e delirante de desejos por todas as flores que conheci...
-Já era noite, quando nos despedimos.
Retornei à casa, a meditar na opção do poeta.
Aqui discordamos no pensamento em toda a essência e conteúdo.
Creio que mais vale elevar ao rubro a emoção e paixão pela flor única à nossa frente, a um palmo do nosso nariz, que nos acena em cada instante, desfazendo-se em movimentos ritmados ao sopro do vento, como bailarina graciosa de nosso destino.
JRSA

Vozes Perdidas

Os meus sentidos que a todo o instante inalam o perfume proibido...num silêncio sepulcral que percorrem as recordações de um tempo sem idade.
Olho com saudade um passado que se quebrou, em gritos gélidos das palavras secretas, onde me perco para me poder encontrar. Os ponteiros do relógio batem num vaivém da vertigem da vida, dos meus desvarios infundados onde as sombras moram, para nascer a alegria. Na mente consumo o absurdo dos desejos que jamais esquecerei neste mundo de sabor a fel. Acordo os meus fantasmas adormecidos que espreitam sem freio a necessidade de romper com todas as barreiras elementares. Sou cúmplice das minhas loucas noites e a única testemunha das minhas loucuras em que abraço este vicio de vaguear sem rumo.
Pergunto-me quem sou e para onde caminho...nas horas que o tempo espera entre um café para aquecer as ideias. Vivo sempre à procura de algo, para não esquecer que vivi, o êxtase do ar e a palavra do vento, onde lanço os olhos pelo Mundo para pintar os meus desejos. Sorrio inquieta na tentativa de esconder os momentos de que me alimento, onde sou o meu anjo e o meu demónio neste horizonte de cores que se lançam na desfilada da estrada da vida. Teremos a noção de que passamos demasiadamente apressados nesta vida onde os homens cultivam o fim?

Se o Mundo é a nossa residencia permanente onde nos exercitamos, nos mantemos e buscamos uma certa paz, e uma tranquilidade nos nossos momentos, passarei a indagar tudo o que me rodeia, bem como a dimensão das palavras proibidas.
Na solidão deste espaço, transporto-me para o interior da página e me personifico.
Várias foram as noites que atravessei as fronteiras, caminhando entre um Universo de criaturas, astros e palcos...
Alterei o espaço em que rasgava o que me ia na alma, na busca de Imagens, para dar agora inicio a outra caminhada...
Observo algumas pessoas com as quais me cruzei ao longo da vida...E certamente que me cruzei com muitas...para constatar uma bondade mútua. Pessoas a quem falei dos meus cansaços, que fizeram parte dos meus monólogos, onde tentava a todo o custo escrever o meu arquivo de silêncio. Foi então nesta longa insónia da vida, e onde a morte nunca se aprende, que passei a adquirir o meu vocabulário repetitivo de agradecimento perante alguns.
Porque, por mais que me queixasse da rotina,tentei amar a vida, buscando as ideias que permanentemente se fragmentavam no meu oculto...Talvez tenha criado este pequeno espaço, o qual o dividirei com o firmamento da noite, para desenvolver parte do meu raciocínio aquando a presença da angústia e da vontade do silêncio. Porque me volto constantemente para o vazio, e não quero ser a única. Não quero contudo, perder a "admiração" que sinto por algumas pessoas...admiração que certamente acabaria por perder se a limitasse e a fechasse no seu excesso. Porque tudo tem uma essência, soube à partida que há momentos que cansam...
Rendi-me, para mudar rapidamente o cenário de mais um teatro da minha vida...Porque a verdadeira sabedoria, está na apreensão dos momentos certos...Libertei-me de todas as sensações que não me deixavam ser, que não me deixavam pensar, e muito menos agir de forma normal...Despojei-me então das figuras ridículas que fiz, ao subir alto na emoção.

A noite chega, e os pensamentos parecem inquietarem-se...
As sílabas escorregam entre ruídos leves e o despontar da lua no horizonte.
Interesso-me pelo ausente no crepúsculo da noite, e quando o silêncio chora, não consigo fugir das vozes perdidas na escuridão.


A noite chega, e os pensamentos parecem inquietarem-se...
As sílabas escorregam entre ruídos leves e o despontar da lua no horizonte.
Interesso-me pelo ausente no crepúsculo da noite, e quando o silêncio chora, não consigo fugir das vozes perdidas na escuridão.


Estranho, porque é que quando tencionamos esquecer certos e determinados assuntos, estes parecem não se querer perder, surgindo-nos fragmentos da nossa história em pequenas musicas, fotos, palavras...entre outras tantas coisas.
Pequenas peças que se compõe mais uma vez, ou como diria a musica, que me enviastes, “perdes o momento ...escondes-te no tempo”.
A imaginação da figura, e a noção de que ao avistar a primeira vez, algo antecipava os sentimentos futuros, pelo facto de tentar a todo os custo buscar pequenos pormenores que nos levassem quase a renegar a personagem. Mas...acreditar na paisagem???
Ouvir a tranquilidade? Mais uma lição de firmeza? A doença do pensamento?
O absurdo de nós mesmas? Perdemo-nos na varanda da razão e da emoção, não é amiga? Vontade de dormir no pensamento...
Querer outra alma que não leia este pensamento...
Criaremos os nossos próprios amores, para não nos tornarmos servos da realidade?
Preferimos ser servos dos nossos próprios instintos?
Fazer da vida um sonho, ou do sonho a vida?
Loucura naquele olhar burilado pelo silêncio...Não abandones o sentimento para não esqueceres de viver. Não te escondas também tu no silêncio.
Querer viver a vida nos seus extremos, onde se dorme para apreender tudo e se acorda para esquecer a noite, nem sempre é o melhor. Conheço-me para saber que esta atitude é a minha maneira de dar algum significado à pequenez do mundo. Mas também te conheces, para querer fazer o mesmo?
Busco as sensações para as fechar no espaço. Possuo a ânsia do impossível. Talvez por isso o busque eternamente, para fugir á monotonia. Fixo-me ao desconhecido para o tocar, e para seguidamente o desprender.
Palavras escritas pela minha desatenção ao momento.
Porque me habituei ao intenso contacto com as pessoas num espaço reduzido?
Considerações que teço frequentemente, ao falar com elas, interrogando-me interiormente sobre as suas vidas...
Guardarei o abismo existente entre os olhares...


Há um fluxo de acontecimentos nesta vida. Olho as pessoas que passam do lado de fora desta minha prisão. Não andarão também elas presas por algum acontecimento???
Um dia o pano desce e o espectáculo acaba, pensaremos então no papel que desempenhamos sob as baladas da chuva, do sol e do vento. Teremos amado a vida o suficiente? Teremos descoberto o brilho da nossa estrela, ou permaneceremos na ignorância de saber o que viemos fazer à Terra? Que me importa aquilo que já vivi, importa-me sim o que ainda não vivi. Sossego neste instante para descobrir qual o segredo lacrado que a vida me trouxe e eu desconheço.
Arrumamos as nossas verdades em paredes brancas, nuas e pálidas, porque ao sermos confrontados com elas, tantas vezes as ignoramos. Afastamo-nos da serenidade para cortar outra passagem, um caminho que nós mesmo queremos traçar e descobrir. Tantas explicações inexplicáveis, na nossa escrita psicológica, dividida por dores verdadeiras e dores ilusórias. Para quê todo este formalismo do silêncio? Para quando jogarmos ás sombras, descobrirmos que não nos conseguimos reconhecer entre as exigências imperiosas do que poderíamos ter sido? Porque ao invés de lutarmos, apenas escutámos a fadiga, a sede do indefinido, a ânsia e as dores infinitas...
Marcamos o caminho no nosso arco de esperança, mas quando o silêncio persegue as nossas horas, mostramos a língua cheia de cantos de guerra.
Soltemos todos os ventos para que os barcos possam navegar longe das águas da ansiedade que nos fendem o coração à facada. Ouviremos a voz do mar, e o desejo de adormecer não mais ouvirá os nossos passos na calçada.
Procurarei sempre o refúgio no eco da tua voz...transmitindo assim à vida um pouco de gratidão.
Teremos apenas o dom de compreender o Homem em efígie?
Por mais que a desilusão faça casulo no meu pensamento, passarei a gritar todas as minhas sensações, não emoções...




Descortino agora outros horizontes...o silêncio parece sair das nuvens paradas que o céu majestoso me mostra
Um lapso no meu pequeno momento de meditação, um toque agressivo do telefone e lá vou eu, desesperadamente cansada, mergulhar no mundo dos mortais...

JRSA

Devaneios Antigos

Se a nossa realidade é bastante diferente do Mundo das outras pessoas, se o Nosso Mundo é completamente antagónico ao outro, parece-me agora ter sido uma estupidez ter tentado compreender um pouco o Mundo das outras pessoas. Entenderei o meu Mundo, e o Mundo das pessoas que de uma maneira ou outra correspondem ao meu, agora tentar entrar no Mundo das outras pessoas para poder defeni-las melhor, nunca mais...

A vida é transitória...nem todos a lêm pela mesma cartilha da jornada terrestre.
Labirinto repleto de tentações e de dores, o que buscas no fruto das civilizações?
Mundo de vidas revolvidas pelo vento das paixões efémeras, que anseias encontrar???
Que marca me queres tu deixar impressa na alma, para me envolveres com o silêncio daquele olhar???

Em mais uma moldura temporária da minha meditação, contemplo o brilho do sol na paisagem triste e incerta, antes da sua chegada. Um momento de equilíbrio e o inesperado mais uma vez colheu-me de surpresa. Olhava do parapeito da minha janela, um terraço anteriormente habitado por uma doce velhinha . Um terraço cheio de cor e maravilhas de todas as cores que se estendia pela diversidade de flores que ali se encontravam, lembrando-me a terra fértil. Um recanto agradável e amoroso, uma passagem quase obrigatória para os meus olhos condoídos da agressividade humana. Tinha por hábito, as janelas abertas, de modo a vislumbrar o firmamento e o insondável da coisas naquela policromia de profunda satisfação. Porém...um dia, as flores não mais se multiplicavam, não mais brilhavam como antes, amarelecendo de dia para dia. Acompanhei os últimos dias daquela velhinha que agora recordo, nos seus dias de luta em fazer da promessa de nunca deixar de viver uma constante. Promessa essa, agradável aos olhos da morte do falecido marido. Partira antes dela, deixando-a permanecer no sombrio corredor da solidão emocional. Tão logo ela se encontrou a sós, vi-lhe a vista apagada de forma e de cores. Havia uma indefinível tristeza bailando os seus passos, um tumulto interior constante que a perturbaria. Fui testemunha da imagem perfeita daqueles dois seres enquanto unidos, para constatar agora que Josefina, não mais reagia. Via-a explodir em resposta de indiferença perante o passar dos dias, deixando-se aprisionar na frieza da revolta. Fugir é fácil...talvez esta situação tenha sido uma de tantas que me marcaram ao renunciar constantemente um amor transitório.
Foi nesse clima psicológico que contemplava da minha janela a morte de Josefina. Via-a pela morte das flores, pelo desaparecimento de toda uma gama de cores...
Parti um tempo naquela altura para outra cidade, ao impacto das emoções apressadas da adolescência. Afastei-me do diálogo daquela alma ferida como que na condição de grande crime. Levei na mente a imagem daquela mulher fragilizada pela perda do seu amor que a derrubara no abismo. Narrei-lhe o drama íntimo diversas vezes nos meus monólogos, com imensa dor na alma. Voltei passado uns meses, após vagar sem rumo pela liberdade da altura. A saudade de saber como estaria aquela velhinha toldou-me os actos e qual não foi o meu espanto, quando não mais vi, qualquer registo da sua presença. Recolhida nos meus pensamentos, questionava-me o que se teria sucedido. Teria partido definitivamente aquela flor amarelecida pelo desgosto de estar só? Tive a certeza que sim, ao ver retirarem-lhe todos os pertences daquela moradia. Teria finalmente Josefina conseguido o que de antemão buscava nos problemas que a afligiam? Teria finalmente ela encontrado novamente o seu amor???

Caminhava na luz da sua face, esperando com ânsia que as nossas almas pudessem transpor todas as distancias. Preencho-me com a quietude da noite...Silêncio sagrado que me condenas ao trazer-me a memória dos sonhos.
Na presença das minhas recordações, sentada à sombra do dia, jamais esquecerei todas estas estações dos anos. Quando a noite me envolve, cai sobre mim o brilho daquele olhar...um olhar silencioso, amargo e doce, onde tantas vezes busquei companhia.
Escapo às leis do tempo para correr na estrada dos que partem. Danço com a luz e interrogo-me se saberei entoar o mesmo cântico quando a voz não mais reconhecer a melodia. Desço aos que jazem enterrados, agarrando-os e afastando-os ...são estas as sementes que me fazem contemplar as asas do vento. Que me fazem jamais encerrar os lábios no meu pensar apaixonado. Sei que também eu um dia farei parte deste jardim invisível...mas antes tentarei sentir todos os meus propósitos. Gritarei na solidão o meu amor transbordado...Na solidão, de mais uma de tantas encruzilhadas.
Viajei muito, por entre montanhas encarpadas e mares de bonança, sem nunca me separar das minhas fantasias. Fui embora apenas com uma verdade, verdade que constantemente me acompanha o pensamento. Mas...trarei os lábios selados sobre a interrogação desta personagem...
Não quero atravessar o desejo de algo que arde...Fingirei não o reconhecer na presença dos meus sentimentos, para que seja sempre lúcido a presença deste momento.
Um dia...quando finalmente o silencio me cobrir a face, entoarei todos os pensamentos absurdos sob um projector já cansado...
Saberei ver a saudade, mas nada se alterará...Deixarei este livro aberto, apenas este, pois a sensação de já o ter lido vem de longe, de outros tempos mais longínquos...de outro resto de vida, talvez...de outro amor...enfim, de outra passagem que não se pode prolongar.
Destino....saberei traduzir-te na alegria e na incerteza que te banha o olhar. Sim, o olhar...cheio de tudo e cheio de nada, como o principio e o fim da existência Humana.
Vou partir para um Reino distante...Porquê???
Porque prefiro o sabor da amizade que perdura no formalismo, ao sabor do amor passageiro e tempestuoso da ilusão...
JRSA




Passamos a vida inteira a adiar tantos assuntos...se ao menos os adiasse-mos para saborear os pequenos momentos que esta por vezes nos oferece. No meio deste meu Mundo, contemplo agora muitos dos seus encantos.
Nostálgica saudade de todos os acasos...Temos sempre a oportunidade de mudar algo na nossa vida, os ímpetos da revolta, o anseio causado pelas crescentes ambições, um sentimento... entre tantas outras coisas das veredas incertas da Vida.
Trouxe comigo os ruídos desmedidos de uma cidade grande...a figura de inúmeras personagens que corriam desenfreadamente em busca de algo que nem elas talvez soubessem ao certo. Cruzei a face de um Mundo feito de vários ângulos, para constatar mais uma vez, ser esse o meu Mundo, onde me sinto liberta. Um Mundo de dolorosas revelações, mas... talvez um Mundo mais real, pelo facto de estar exposto aos olhos de todos .



Olhava cautelosamente aquela personagem que galgava a todo o custo as torres das suas ilusões.
Por demais montanhosas, sucediam-se as palavras de confiança, bem como as de enegrecido desanimo. Via-a repetir o jeito dos diálogos adiados em horizontes longínquos, de forma a intuir o cenário da introspecção. Tateava esta estranha alma, sempre em busca do que iria além das fronteiras, e desde então, fui tomada pelo naufrágio do fastio que existiria, na ausência do mistério. Todo o pensar é devaneio entre os profanos ruídos do compreensível e do incompreensível . Se algum dia me refugiei na solidão, foi por saber da inefável tirania da Vida...Cada vez que espreito uma nova luz, tenho-a sempre presente, no sentido de ler mais uma realidade.
Seres reais num cenário irreal, ou seres irreais num cenário real??? Afinal...qual a dimensão da realidade???


Perguntam-me pelo Amor???
O viver intenso no extrair da beleza?
As frases que nunca se dizem mas sentem-se, e as meditações que não se descrevem mas vivem-se...
Doença do pensamento que nos faz muitas vezes sorrir sem razão.
Não sei...se fique triste ou alegre.
Não sei qual a sua vertente máxina, porque gosto dele calado como uma estrela, longinquo e solitário.
Como uma borboleta, apenas amo o interdito e o inexplorado. Albergo a infinita ternura no meu peito, para posteriomente partir sem sequer me despedir da teia do coração.
Cerquei-me um dia da muralha da Razão, e devolvi o meu amor...Mas o Amor, quis repartir comigo as dores que o seu peito dilacerou.
Vi então, o Amor inocente, no riso da esperança de uma criança.
Sonho de total união é o Amor. Paradoxalmente quem ama, ama também na ausência, bem como se ve obrigado a conviver com a ideia da separação e do abandono.
Porque tudo é efémero, e um dia ao chegar no limiar dos pensamentos surge uma chama que se apaga sem motivo e sem perdão...
Se o Amor se divide entre a essência da liberdade e a essência da clausura, não quero um só minuto voltar a Amar...
Amarei apenas as imagens que me seduzem, mas possuirei eternamente a minha liberdade, entre o sono da vida e o sono da morte.
PORQUE AMO O MOMENTO, NÃO A ETERNIDADE...


Olho pela janela e vejo a magia do vento a redemoinhar as folhas que cobrem o chão com magnificas tonalidades.
As árvores perdem a sua folhagem, da mesma maneira que eu me desprendo da Terra nesta marcha fugidia. A noite virá em breve numa ténue melancolia, e eu numa posição inerte, estática e sem falar oiço um murmúrio sem cessar. Caminho ao acaso neste labirinto para sentir o meu peito a latejar e o coração a pulsar. Ponho de parte o medo para colher o fruto da magia, num gesto por vezes sincopado de memórias em formação. Escolho o que quero fazer e a paisagem que quero ver debruando doces miragens. Numa aragem cinzenta desvio o olhar para um destino inconstante, onde um maldito silêncio infernal ecoa nos meus sentidos e me verte o subtil aroma do Amor.
Dançarei este bailado sem plateia, apenas fazendo-me acompanhar dos olhares solitários e misteriosos. Olhares que segredam coisas a desvendar, mas que ficam constantemente perdidos perante a imensidão de tanta coisa a olhar. Dançarei na rua deserta e escura, indiferente ás pessoas que passam na montanha dos instantes. Dou vida ao passado entre os ventos taciturnos para me surpreender ao espelho. Espelho que me traz a imagem do local onde me uni ao vento, á lua e ao mar. Existe um mistério em tudo pois somos inesgotáveis nos nossos segredos. Valeria a pena dizê-lo?
Nunca deixarei der ser vítima da metáfora da obscuridade, ainda que o tenha dito milhares de vezes que um dia renegaria a esta linguagem do Imaginário...


Olho pela janela e vejo a magia do vento a redemoinhar as folhas que cobrem o chão com magnificas tonalidades.
As árvores perdem a sua folhagem, da mesma maneira que eu me desprendo da Terra nesta marcha fugidia. A noite virá em breve numa ténue melancolia, e eu numa posição inerte, estática e sem falar oiço um murmúrio sem cessar. Caminho ao acaso neste labirinto para sentir o meu peito a latejar e o coração a pulsar. Ponho de parte o medo para colher o fruto da magia, num gesto por vezes sincopado de memórias em formação. Escolho o que quero fazer e a paisagem que quero ver debruando doces miragens. Numa aragem cinzenta desvio o olhar para um destino inconstante, onde um maldito silêncio infernal ecoa nos meus sentidos e me verte o subtil aroma do Amor.
Dançarei este bailado sem plateia, apenas fazendo-me acompanhar dos olhares solitários e misteriosos. Olhares que segredam coisas a desvendar, mas que ficam constantemente perdidos perante a imensidão de tanta coisa a olhar. Dançarei na rua deserta e escura, indiferente ás pessoas que passam na montanha dos instantes. Dou vida ao passado entre os ventos taciturnos para me surpreender ao espelho. Espelho que me traz a imagem do local onde me uni ao vento, á lua e ao mar. Existe um mistério em tudo pois somos inesgotáveis nos nossos segredos. Valeria a pena dizê-lo?
Nunca deixarei der ser vítima da metáfora da obscuridade, ainda que o tenha dito milhares de vezes que um dia renegaria a esta linguagem do Imaginário...

A distância de um Amor


Na sombra da noite mostraste-me o Amor
Corri nos pensamentos para afastar a ilusão de um mundo fugaz
Queria finalmente sorver os sonhos da esperança de ter achado um tesouro
Vestiste-me o coração de juventude e luz, salpicando-me o destino com doces miragens
Premiaste-me de encantos onde cada amanhecer a teu lado se mostrava uma doce alvorada
Amei-te sofregamente, desvelando a face anteriormente coberta pela túnica do vazio
Durante muitas noites, com o teu beijo sereno, doiraste-me de luz
Suaves perfumes percorreram o nosso corpo
Enamorei-me de esperança para sacudir a ansiedade
Mas...um dia, enquanto buscava a paz do amor
Descobri que jamais podias ser meu
Gritei sem parar nos meus monólogos de desejos frementes
Estranho viajante porque caminhas numa vida diferente da minha?
Porque me confundes numa aterradora viagem de intimidades?
Uma linha de irresistíveis encruzilhadas
Cegaste-me com as tuas caricias, marejaste-me a face de lágrimas
Mordacidades comprometidas e endurecidas
Aparências de fantochadas, deixaste-me desfigurada
Empalidecestes-me a face com fracassos e embaraços, farta de tentar que ficasses
Jazo na vida desconfortável de ter acreditado numa paixão
A respiração prende-se-me e a mente congela-se-me num suspiro de confidências
Pecado mortal, agarro-me à tua imagem e saboreio o teu espirito em trejeitos de criança
Suporto a escuridão para me esconder das torturas de um amor crucificado pelo desgaste da vida
Afinal, viestes mas não ficastes
Espetaste-me o peito ao luar, com um jeito sentencioso
De quem um dia, jamais poderia voltar, a sentir o pulsar do meu coração
Estarei eu algum dia livre desta dor?
Há que morrer para renascer.
J RS A
Regresso a casa

Regresso a casa como quem deambula por um cemitério
Com a voz enraizada na sinfonia da tristeza, vazia de vida
Sangrando nos pensamentos, inalando sonhos que se desfazem
Recolho-me no meu recanto rasgado pelo brilho ofusco das estrelas
Melodia triste, conseguirei eu algum dia ser feliz?
Na dor do meu peito, afugento os pensamentos de sabor a fel
Espio silenciosamente o dia da mudança
O dia em que partirei desta casa, o dia em que deixarei de ser uma harpa dorida
Pois aqui, o meu reflexo é coroado de escuridão
Prefiro que a vida me cubra a face a viver nesta cegueira de sentimentos
Tristemente fito o Universo, perco-me nas dilacerações que o meu corpo sofre
Cambaleio dia e noite interrogando-me de que valerá esta longa espera
Neste jardim onde vivo, figuro como um espinho solitário no seu grito contido
Em criança, supunha que este sítio seria como a calmaria de um rio
Inalaria suaves perfumes que me deixariam estonteada de tanta beleza
Cresci e o mesmo lugar que antes figurava como o meu ninho de doces lembranças
Fez de mim uma serpente, silenciosa e cruel
Por isso, nada mais desejo do que a soltura destas amarras
Com o hálito cansado, suplico ás águas paradas a distância destes julgadores implacáveis
Antes que gaste as forças a lutar e o corpo se extinga num sono eterno de dores e desconsolos.

J RS A

VIDA DE EQUÍVOCOS

Espaço que tão bem conheço
Sem fim, pouco a pouco revelada
Num caminho distraído de aventura
Incitas os meus refúgios, abraçados contra a noite, num tapete de olhos infinitos
Tenho a tua cor lancinante e triunfal
Mas tenho igualmente as tuas lágrimas dum vento vencido
Voz voraz que se robustece e estremece na boca da morte
Porquê a hora da partida?
Porquê as horas infinitas de desespero?
Envolves-me a alma com promessas irreais
Sorris das minhas feridas
Dobras-me as saudades dos amores que se foram
Fustigas-me os gritos de consciência
Para me prenderes nas tuas garras insaciáveis

Bem sei que trazes a garganta sedenta
Ora te apossas da tranquilidade, ora dos gritantes ruídos
Segues de pés descalços o rubor da minha face
Já não me censuras, bem sei, mas avisas-me constantemente da hora final
Por isso peço-te que me deixes galopar mais uma vez no carrossel dos reflexos do sol
Peço-te que coordenes os meus lábios profanados dos segredos do coração
Talvez assim, como um velho muro que já viu passar diante dele muitas ânsias de voar
Possa também eu, levantar os lamentos e aterrar num solo fecundo de amor
Libertar-me desta garganta emudecida, desta vida engaiolada numa incógnita
Para, simplesmente viver, fascinada no vulto de um novo amanhecer.

J RS A

Gestos cansados

Sinto o cheiro da vida
Pessoas arrependidas, tristes, alegres, suadas e cansadas
Vertiginosamente ,olho o céu de cara lavada
Um pedaço de mim que avisto
Uma ausência que teço em mais um vislumbrar
Em mais um decifrar ansioso de despedia
Passo de fugida no avivar da memória
Emancipo-me na busca da minha identidade
E não mais constato a solidão dos amores secretos
Panorâmica de quem entra na vida como um intruso
Hipnotizado na montanha dos pensamentos
Não são as pessoas que magoam, mas a força do seu olhar que pulsa no coração
Coração tantas vezes descompassado, sem tempo para derramar o amor nas artérias
Coração de distâncias, enclausurado numa atmosfera viciada de cinzento
J RS A

Segredos de um mundo inventado

Quisera eu resgatar a minha vida
Dissecar tudo o que havera visto anteriormente
O barbarismo dos Homens, a guerra na vida
A amargura sentida nos olhos de mel das crianças
A confusão do medo das encruzilhadas
A existência dos olhos míopes dos maiores
E a repetição de uma vida sem significado

Vida de alarmes súbitos
Passeios rituais, conversas banais
Tantas vezes nos trais
Esvazias de significado a nossa mente
Deitas-te a nosso lado com um olhar de ressaca
Inadiável desejo de mudança
Aninhas-te a mim, interrogativa, mas logo te esquivas pausadamente
Quisera eu redecorar a minha vida
Preencher-me de todas as cores, largar as sensações estranhas
Num mundo tantas vezes desnorteado e forrado a lentidão

Recomeço

O Recomeço de algo que outrora fiz questão de cessar..os meus pensamentos...os meus devaneios, perdidos entre a bruma da vida e a esperança de algo melhor
Havia iniciado esta caminhada com o antigo blog, www.lamentodoluar.blogspot.com
Sem saber porquê, senti novamente a necessidade de gritar o que me ia na alma...